quarta-feira, 16 de novembro de 2011

João Carlos Martins, pode perdoar?



Texto publicado no Caderno 2 do Jornal O Estado de São Paulo em 26/08/2011

Por Ignácio de Loyola Brandão

Na minha juventude, 20 e poucos anos, crítico de cinema, adepto de uma arte engajada, “revolucionária”, que mudasse os povos, derrubasse o sistema capitalista, bastava o Walter Hugo Khoury lançar um filme para que eu e outros disséssemos: eis o cineasta aliado, bergamaniano, distante da realidade brasileira, da realidade e do homem brasileiro. E tome pau!

Que realidade, meu Deus? Que realidade era aquela?  Quem eu era?  O tempo passou, o mundo mudou, o Brasil se transformou, mudei o olhar sobre a vida, me desiludi com ideologias, me decepcionei com os homens e também comigo e com as atitudes e conceitos que desmoronaram.

Um dia consegui ver o que era o cinema de Khoury, suas buscas, seu perfeccionismo, sua maneira refinada de filmar e transmitir uma visão particular do homem e do mundo. Khoury foi dos poucos diretores do cinema brasileiro com cultura e muitas leituras, capaz de discutir filosofia, misticismo, religião, história, arte, cinema, fotografia, mitologia, música. Era um homem educado, gentil, falava baixo, não se exaltava.

Certa vez, o Centro Cultural Banco do Brasil realizou uma Mostra Walter Hugo Khoury. Fui convidado. Na noite em que subi à mesa, ele estava na plateia. Mal sabíamos todos que estava mal, fraco, deprimido, desencantado. Teve um ataque de coração pouco depois. De repente, joguei fora tudo o que eu tinha preparado e olhando para ele comecei com um pedido de desculpa, de perdão, por ter sido aquele pretensioso, que achava que sabia tudo e que o mundo girava em torno dos meus ideais de cinema “transformador”.

Pedi perdão a Khoury por críticas insensatas, textos estúpidos, opiniões sem sustentação.  Perdão por não ter entendido a sua posição no cinema, o que pretendia, a coerência de uma obra. A vida tinha me mostrado muita coisa. Falei pouco e saí da mesa com um imenso alívio. Não em paz, mas me sentindo melhor.

Dali em diante, tenho pensado neste gesto simples e difícil: o de pedir perdão a alguém. Quantas vezes quis rever amigos, não liguei, não procurei. Quando liguei, alguns tinham morrido. Prometi a mim mesmo ver as pessoas de quem gostei e de quem gosto. Umas mudara muito, outras me decepcionam. Não importa, vou em frente.

Escrevo hoje para dizer: meu caro João Carlos Martins, me perdoe. Por uma crônica que escrevi há anos em outro jornal e que até já desapareceu, em que misturei estações, fui agressivo. Foi um episódio ligado a um político paulista sempre acusado de corrupção e que me enervava, me dava alergia. A imprensa acabou te envolvendo, entrei naquela. Você era o então secretário de Cultura. No meu horror àquele político, distribuí pancadas, pedras, lanças. Fiz mal! Não era a você, João Carlos, era ao político que me horroriza até hoje. Na minha sanha atingi quem não devia. Depois, você foi inocentado, absolvido. Sei como ficou ferido, como tentou ao longo destes anos falar comigo, sempre me desviei. Você sempre me tratando com cordialidade incomparável. Estivemos juntos, um ano atrás, em um evento na cidade de Amparo e, ao falar diante de uma plateia selecionada, teceu os maiores elogios a mim como escritor. Não me senti bem, fiquei incomodado. Desde aquela noite, venho me remoendo por dentro.

Aprendi uma lição. A de usar as minhas palavras com justiça, a pesquisar, indagar, saber se o que digo é verdadeiro, se a pessoa, o fato, a situação merecem o que digo. Há anos tenho uma admiração profunda por você e sua capacidade de superação. Quantos suportaram o que você atravessou? Um pianista de extremo talento que perde o movimento de uma das mãos, depois das duas, depois tem um tumor no cérebro causado por um assalto, sofre seguidas intervenções cirúrgicas dolorosíssimas, fez anos de fisioterapia. Ameaçado de perder o que o sustentava, a música, ameaçado de ficar sem a paixão, o sonho, portanto sem motivo para viver, você se superou. Na minha vida pouquíssimas vezes vi isso; se é que sua superação não é caso único.

Mesmo contra tudo e todos, você negou a impossibilidade, voltou, gravou Bach completo, retornou ao Carnegie Hall, aos palcos da Europa. Finalmente, suas mãos se foram de vez, mas você com dois dedos ainda toca piano, aprendeu regência, circula pelo Brasil e pelo mundo com uma orquestra de jovens. Você contou que certa vez ouviu o falecido maestro Eleazar de Carvalho voltar para te chamar: “Venha, vou te ensinar regência”. Que beleza a mente humana, que consegue tais prodígios, ressuscitar um homem de envergadura de Eleazar, para se levantar do poço mais fundo.

Pensar que tem gente que por uma dor de cabeça, uma topada do dedão, uma indisposição estomacal, uma tristeza momentânea se imobiliza, cheio de autopiedade. Antes que eu me vá, ou que não tenha mais este espaço, ou que você não esteja mais aqui, me perdoe João Carlos Martins pela insensatez de um momento em que me julguei acima do bem e do mal e assim julguei você. Ninguém é juiz de nada.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As coisas em ordem....


Os grandes antigos, quando queriam propagar altas virtudes, punham seus Estados em ordem.
Antes de porem seus Estados em ordem, punham em ordem as suas famílias.
Antes de porem em ordem suas famílias, punham em ordem a si próprios.
E antes de porem em ordem a si próprios, aperfeiçoavam suas almas, procurando ser sinceros consigo mesmos e ampliavam ao máximo seus conhecimentos.
A ampliação dos conhecimentos decorre do conhecimento das coisas como elas são (e não como queremos que elas sejam).
Com o aperfeiçoamento da alma e o conhecimento das coisas, o homem se torna completo.
E quando o homem se torna completo, ele fica em ordem.
E quando o homem está em ordem, sua família também está em ordem.
E quando todos os Estados ficam em ordem, o mundo inteiro goza de paz e prosperidade.

Confúcio

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Pra que reclamar?


Dia estressante, um monte de coisas pra resolver, um monte de textos para escrever...
Senti falta de estar em uma equipe, reclamei de trabalhar sozinha, me cansei mais do que devia. Faltou ânimo para terminar todas as coisas, faltou disposição para encarar de frente todas as responsabilidades. Uma hora a gente cansa, a gente precisa parar. Parei! Parei e resolvi ir fazer uma aula de yoga para desestressar, conectar meu corpo com a mente e espírito.

No caminho da academia percebi como somos hipócritas, muitas vezes. Como eu estava me lamuriando sem razão. Reclamando de trabalho? Ainda bem que eu tenho clientes, textos para escrever e coisas para fazer. Isso é sinal de que eu sou uma boa profissional, que as pessoas precisam de mim, que o meu trabalho realmente importa e faz a diferença.

Percebi que, quanto mais a gente reclama, quanto mais a gente choraminga e diz que está tudo errado, mais as coisas ficam sem graça, mais achamos que não temos saída, deixamos o desânimo se aproximar e tomar conta de tudo.

Pensando em tudo isso, resolvi mudar a minha postura. Encarar como tenho sorte em ter um emprego, em trabalhar e poder realizar todos os meus sonhos, produzir coisas bacanas e poder trocar ideias e informações com o mundo. Poder acordar todos os dias e ter coisas para fazer, PRODUZIR.

Posso não estar plenamente satisfeita, mas a única pessoa responsável por isso sou eu mesma e depende só de mim mudar. Mas descobri que o caminho não é me lamentar e nem reclamar e deixar de fazer as coisas. É agir de uma forma produtiva, buscando o que realmente quero e posso fazer. Mas antes de tudo isso, é analisar a nossa vida e perceber que temos exatamente o que procuramos para nós mesmos. E, para falar a verdade, não posso reclamar. Mas posso melhorar!

E você, já se cansou de reclamar e começou a mudar e ir realmente atrás dos seus sonhos?

Descobri um som muito bom também que eu acho que pode ajudar a aliviar o stress: Pat Metheny! Fica a dica!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O que é a felicidade para você?




Pode parecer piegas ou até propaganda de supermercado, mas, de verdade, o que faz você feliz? E, mais importante ainda, o que você faz para correr atrás de sua felicidade?

Pois é... será que o caminho que estamos percorrendo neste momento nos proporciona sentimentos de realização, paz e satisfação? E, afinal, a felicidade é algo que tem que ser buscada ou sentida?

De uns tempos para cá, não sei exatamente dizer quando ou porque, eu comecei a me sentir bagunçada. Como se algo estivesse faltando. Mas o que? Não entendi ainda, mas sinto que preciso fazer algo. Sinto que o momento de algo grande está se aproximando, mas ainda não entendi nada do que eu realmente estou sentindo.

Tenho vários sonhos e desejos, como todos têm. Todo mundo fica falando que sonha em fazer isso ou aquilo, que se pudesse realizaria aquele desejo antigo. Mas o que realmente fazemos para realizarmos essas vontades? Com a correria do dia a dia a gente se perde nos compromissos, nas horas, nos prazos de entrega e vamos vivendo no modo On sem realmente sabermos se o caminho que estamos percorrendo nos faz feliz ou se nos leva para algo que tanto desejamos.

Eu sei que não dá para querer viajar o mundo, e no mês seguinte fazer as malas e ir embora (só se eu tivesse muito dinheiro e nada para fazer – o que não é o meu caso). Mas mesmo assim, acho que isso não me realizaria. Não deste jeito. A gente valoriza quando a gente luta por aquilo que queremos, quando vamos atrás e fazemos acontecer. Daí o sentimento é outro. É de superação, de conseguir algo que tanto batalhou.

Ta bom... Quando a gente realmente sabe o que queremos e o que nos faz feliz. Mas e quando a gente não tem certeza? O que fazer? Já ouvi várias vezes que a felicidade não está fora da gente, e eu acredito piamente nisso. Que precisamos olhar para nós mesmos e entender as nossas necessidades, nossas fraquezas, nossos medos e nossas forças. Entendendo-nos vamos entender muito mais fácil o mundo. Porque vamos reparar que não tem tanta importância saber do mundo quando sabemos tudo sobre a gente. Pronto! Estamos em paz com nós mesmos.

Mas o sentimento da bagunça continua... Um misto de quero mais com uma insatisfação atual da minha vida. Não estou reclamando de nada, muito pelo contrário, sou grata a tudo o que eu tenho que batalhei e construí, mas acho que chegou o momento de algo maior. Algo que vá me desafiar, que me tire dessa zona de conforto que tanto me incomoda.

Felicidade, para mim, é acordar todo o dia com aquela vontade de fazer acontecer, de mostrar que eu sou mais no que eu faço, que eu posso mais, que eu mereço mais. Felicidade é um dia de sol, céu azul, árvores verdes e passarinhos na minha janela. Mas sei também que a felicidade não está neste cenário. Está nos meus olhos que enxergam o dia desta maneira. Tudo vai estar lá, do mesmo jeito, só depende do modo que eu vou enxergar as coisas.

No momento eu me sinto com um monte de portas a minha frente, mas sem saber o que cada uma oferece e até criando outras, pra descobrir o que tem dentro. Não sei ainda para aonde ir ou o que eu tenho que fazer. Não entendi ainda esta angustia estranha que está apertando o meu peito todos os dias. Mas, assim mesmo, eu consigo enxergar a felicidade nisso. De certa forma, até senti-la. Porque eu sei que a felicidade está também neste caminho. Neste momento de indecisões e busca, porque quando algo se concretiza, você valoriza ainda mais tudo o que passou.

Não sei o que esperar, e ainda, não sei direito o que buscar no momento, mas sei que preciso fazer algo. Algo grande. Algo desafiador. Para mim, a felicidade é isso. É essa busca eterna (que é o nosso caminho) de nos sentirmos realizados, evoluindo a cada passo dado, e feliz, com cada degrau avançado.

sábado, 9 de julho de 2011

Facebook – No que você está pensando agora?


Penso que nada sei. Acho que o que você está pensando agora não é exatamente o que você escreve para os seus milhares de amigos que vão compartilhar com mais milhares de pessoas presentes em uma rede social virtual.

Penso em rosas, publico a imagem de uma flor. Sinto o amor, escrevo um verso. Procuro no Google e no Youtube o trecho daquela música que me faz sorrir. Choro por dentro, digo a todos que o mundo é cruel.  O mundo precisa saber dos meus gostos, desejos, indignações. Mas será que a pessoa que está sentada atrás do computador, celular, iPad etc, sabe mesmo o que ela realmente precisa ou quer?

Nesse mundo de redes sociais, todos são felizes. Todos são poetas, cultos, patriotas, politicamente corretos ou até mesmo contra o sistema. Mas, em que momento você é realmente você? A maioria das pessoas não coloca no “No que você está pensando agora”, seus verdadeiros medos, culpas, anseios, o seu verdadeiro eu. Será que é mais uma fuga da realidade, cada vez mais distante?

Na verdade, o que é a realidade atualmente? O mundo, cada vez mais dinâmico, cada vez mais 2.0. deixa todos loucos. Numa ânsia interna, precisamos saber de tudo, ouvir, ler tudo. Estar conectado. Mas conectado cada vez mais com o mundo externo e menos com o nosso verdadeiro eu. O que realmente importa? Estar conectado com o mundo, mas cada vez mais distante de você mesmo? Interagir com todos, mas deixar de olhar para si mesmo? Para dentro?

As redes sociais são portas para mundos mágicos, imaginários e também reais. Mas tudo depende de como você as utiliza. Qual é o seu grau de envolvimento com tudo isso. Porque não parar um pouco? Parar e pensar....Usar uma rede social para descobrir uma nova música que te faça refletir. Para ler um texto sobre algo que te interessa, mas sem se tornar escravo desta ferramenta. As respostas não estão lá. Estão dentro de cada um de nós.

Pare e reflita, realmente, no que você está pensando agora. O que você REALMENTE deseja? Deseje algo factível e realize! Compartilhe ideias, mas sem esquecer de que para que elas aconteçam, precisam ser transformadas em ações. Ou seja, FAÇA.

O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AGORA?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Aprendizado


A vida prega cada peça na gente né...


Não importa o caminho que vamos seguir, sempre nos deparamos com um obstáculo, com algo que temos que aprender a lidar. Existem três caminhos:

- desistir, quando se deparar com a pedra no caminho

- chutar, chutar a pedra e só se machucar tentando remove-la, ou

- analisar aquela pedra, ver a melhor forma de lidar com ela e contornar a situação.

Parece fácil quando a gente fala assim, não?

Simples analisar e entender como e o que devemos fazer. Mas no momento, quando rola todo aquele sentimento, aquela angustia, geralmente nos deparamos com a situação sem saber o que fazer.

Como aprender?

Se conhecer melhor a cada dia, entender os seus limites, as suas qualidades e defeitos. Ninguém é perfeito. Não existe um ser humano na face da Terra que nao tenha seus defeitos, seus momentos tensos, suas escorregadas.

Mas quando a gente passa a se conhecer, a entender as coisas como elas acontecem na nossa vida, percebemos que tudo tem uma razão: o nosso crescimento espiritual, o nosso aprendiizado.

É tão mais fácil quando conseguimos encarar uma situação com maturidade, com tranquilidade e entender o que ela está nos proporcionando. E quanto mais a gente se conhece, mais sabemos o que aguentamos, o que queremos, o que aceitamos.

Não é para abaixar a cabeça não. Muito pelo contrário, é para ergue-la com toda a auto confiança e saber se queremos lidar com essa situação ou não.

Tudo nessa vida é uma escolha. Mas uma coisa é certa. Não tem como escolher não passar por dificuldades. Porque elas vão aparecer em todos os momentos, não importa qual caminho iremos percorrer.




quarta-feira, 6 de abril de 2011

Dono de você

Li esse texto hoje cedo e achei muito interessante. Ele fala sobre o ciúmes e as consequencias que ele pode causar na vida de uma pessoa.


Texto publicado na Revista Vida Simples, edição 72, novembro de 2008.
Seção Filosfia, texto de Márcia Tiburi




Dono de você

O ciumento reclama a posse de alguém como quem exige direitos de consumidor. Mas, no amor, todo investimento é a fundo perdido

Ninguém é dono de ninguém. Quem é capaz de levantar essa bandeira? Há quem se aposse do outro a quem diz amar do mesmo modo como se sente dono da camisa ou da bolsa que acabou de comprar. Para alguns, o namoro ou o casamento, a conquista de um amor ou a compra de um objeto resultam no mesmo direito de posse. Nos casos mais graves, o desejo basta para considerar que o objeto já está ganho. Porém, nem sempre o objeto de tão caloroso desejo sequer sabe que é mirado. E nem sempre corresponde, nem sempre imagina o peso das amarras que se lançaram sobre ele. E, se souber, pode querer fugir.

O ciumento reclama a posse de alguém como quem exige direitos de consumidor. Quem tem ciúmes sente que seus “direitos”, mesmo que sejam só de fantasia, são prejudicados. “Paguei, quero o que me pertence ou o meu dinheiro de volta”. Mas ao se tratar de amor, ou de qualquer laço afetivo, sabemos que todo investimento é a fundo perdido. O ciumento é um avarento que não suporta esse logro que a vida prega em qualquer um que sinta amor, dia após dia. Garantia é algo que está fora do mercado das trocas amorosas. E é muito difícil julgar se há um algum ladrão de amor alheio. O ciumento é o único que tem certeza de que foi roubado. Ninguém pode dizer quem ou o que é o culpado de um amor que se esvai. O próprio ciúmes é, muitas vezes, a causa do fim infeliz de muitas relações.

Medo da perda

Sigmund Freud tratou o ciúme como algo que é parte natural da vida psíquica. O ciúme anda junto com o amor, assim como o luto, no mesmo pacote da realização dos desejos e da construção da subjetividade de cada um. Se o luto é o modo de aprender a conviver com o sofrimento da perda, o ciúme é o medo da perda que vem antes de que qualquer coisa aconteça. Mesmo que haja motivo para ter ciúmes, ele é um sentimento que se define pela antecipação. Não é a prova de nada. Nesse sentido também René Descartes, filósofo do século 17, comentou o ciúme como um temor relativo ao desejo que temos de conservar algum bem. Enquanto medo, ele é vivido como ameaça. Nosso erro é pensar que ele revela a ameaça. Quando na verdade apenas sinaliza o medo.

O medo da perda não é a perda e antecipá-lo é apenas colocar o sofrimento possível como um carro na frente dos bois. Cada sentimento deve ser vivido, mas não precisa se produzido nem deve ser alimentado. Uma sensação não é a realidade. Por seu poder de interferir nas ações concretas das pessoas é que todo sentimento deve ficar no seu lugar devido. O equilíbrio em relação ao que se sente é a única forma de evitar mais sofrimento do que o inevitável.

Monstro de olhos verdes

Em Otelo, Shakespeare chamou o ciúme de “monstro de olhos verde”. Uma bela metáfora para anunciar que o ciúme, como o amor, nasce do olhar. De um olhar cativante e devorador. Pois o olhar, sabemos, é muitas vezes bem mais eloquente que as palavras. Revela desejos impronunciáveis. O ciumento, que além do medo chega ao pânico e faz escândalo, confia no que vê e diz tudo pelos olhos fulminantes sempre à espreita e à espia, pronto a capturar qualquer sinal de fumaça.

O ciumento transforma o cuidado normal a que chamamos de zelo em apego exagerado. O ciúme torna-se um regulador das relações amorosas. Pode se transformar em poder, em dominação e até mesmo em violência. Melhor poder expressá-lo em palavras cuidadosas antes que se torne destrutivo.

Todo mundo tem

Viver sem ciúme é a utopia dos amantes. O ciumento, no entanto, ignora a si mesmo e crê na fantasia que possui alguém. Ele ama, mas atrapalha o próprio sentimento de amor. No extremo, crê que é traído ou está prestes a ser. Quem é amado por um ciumento está, de certo modo, sendo privado do melhor do amor, que é a liberdade.

Aceitar que o ciúme existe é o único modo de superá-lo. É preciso entender onde o ciúme se cria, como ele se enraíza e como é alimentado. O ciumento pode ter vivido um trauma, pode ser vítima de suas fantasias. Em qualquer caso, o ciumento é aquele que encontra alguém que o sustenta. Alguém com quem ele se identifica de tal modo que teme perder a si mesmo ao perder quem ama ou diz amar.

Curar o ciúme é curar a angústia que nos impede de ver que a vida de cada um, por mais acompanhada que seja, é a experiência de saber-se único e só. Uma companhia na solidão é uma luz e uma dádiva, consequência da própria capacidade de amar.


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Uma viagem para Bolívia



Tudo começou quando eu percebi que estava há três anos sem umas férias decentes, sem viajar para um lugar novo e outra, sem sair do país há mais de 10 anos. Tinha prometido para mim mesma fazer uma viagem internacional em 2010. Não aconteceu, mas de janeiro de 2011 não passaria.

Determinada com essa ideia, resolvi explorar novos destinos. Conversas com amigos me levaram primeiramente ao Deserto do Atacama, no Chile. Mas vi as fotos do Salar de Uyuni, na Bolívia, de uma viagem que dois amigos fizeram. Foi amor a primeira vista. Um lugar completamente diferente de tudo. Defini o meu destino: Bolívia – Salar de Uyuni.

Inicialmente iria sozinha, mas quando contei ao Jimmy da nova aventura, ele topou na hora. Embarcamos então com destino a Bolívia, ansiosos por novas surpresas e paisagens. Foram seis dias maravilhosos que só me deixaram com uma certeza: Viajar é mesmo preciso. Em todos os sentidos.

Abaixo, o relato dessa viagem maravilhosa. A Bolívia é um país acolhedor, as pessoas queridas e que merece uma atenção dos mochileiros de plantão. Aventure-se pelos altiplanos bolivianos, delicie-se com os mates de coca e cerveja de quinua e perca-se um pouco nessa maravilhosa paisagem do Salar de Uyuni. Boa viagem!

18/01: São Paulo, Brasil – La Paz, Bolívia

Ansiedade a todo o vapor! Era isso que eu estava sentindo! Sair do país depois de tanto tempo, tirar as minhas merecidas férias, conhecer um lugar novo. Chegar em La Paz foi como abrir aquele presente de natal tão esperado quando somos crianças. Era a viagem se concretizando, acontecendo!

Chegamos em La Paz na noite de 18 de janeiro. A sensação de estar em outro país é muito boa. Logo que saímos do aeroporto já sentimos a altitude de cerca de 3 mil e 700 metros acima do nível do mar. Uma grande diferença para nós, brasileiros.

Pegamos um taxi e fomos direto ao Hotel Panamerican, já reservado pelo Jimmy. Como já era tarde, deixamos as nossas coisas no hotel e saímos apenas para comer e comprar o remédio de altitude – o sorojchi pills. A altitude me deixou com uma sensação de “barato” constante e mais sonolenta. É o famoso mal de altura, que geralmente costuma aparecer pela baixa pressão de oxigênio que existe em grandes altitudes.

Em apenas poucas horas e a noite, já pude perceber como as coisas são coloridas e animadas na Bolívia. O colorido das roupas, adereços e músicas alegres contrastam com a cidade monocromática de La Paz. As casas parecem que não foram terminadas. A maioria não tem pintura, deixando a cor marrom do tijolo à mostra. É uma cidade muito pobre.



19/01: La Paz – Uyuni

Quando viajamos nos empolgamos com qualquer coisa. Tudo é novidade, é interessante, vira foto! Acordamos super cedo e fomos direto para a rodoviária de La Paz. A ideia era pegar um ônibus até Oruro e de lá, o trem para o Uyuni. Conseguimos comprar as passagens e partimos às 8h da manhã. No caminho, percebemos como o trânsito de La Paz é caótico. As pessoas não respeitam nada e nem ninguém. Todo mundo buzina por qualquer coisa e os motoristas não respeitam faróis, faixas (quando tem), pessoas atravessando, etc. Uma emoção! (Se fosse em São Paulo, tenho certeza que não pensaria assim).




Nossa viagem de ônibus demorou umas quatro horas até Oruro. Chegamos nessa pequena cidade e fomos almoçar. Começaram as comidas típicas. Sopa (como eles adoram sopa) e um pedaço de lhama com arroz e batata (outro alimento que está presente em todas as refeições). Após o almoço fomos até a Estação Ferroviária e compramos nossas passagens. Por pouco não ficamos sem lugar no trem. Já estava quase tudo lotado e não tinha mais o vagão executivo. Compramos no popular mesmo. Não sabíamos o que nos esperava.

O nosso trem era só às 19h e eram, ainda, 14h30! Vamos conhecer Oruro!! Oruro é uma cidade pequena que não tem muita coisa pra fazer. Achamos um museu no caminho e resolvemos entrar. Era o Museo “Simón I. Patiño”, a residência do barão de estanho de Oruro, construído em os anos 1900 e 1903. Depois da visita cultural, nos meios das ruas da cidade, fomos atraídos por um cheiro de pão maravilhoso. Entramos numa espécie de padaria e compramos alguns quitutes, que foram o nosso jantar durante o trajeto de trem até Uyuni.

A viagem de trem foi um capítulo a parte. Era a primeira vez que eu ia fazer uma viagem em um trem. Pelas janelas, paisagens completamente diferentes do que eu conheço. Olhar para aquela janela era como olhar um novo mundo, cheio de possibilidades que só podem ser percebidas numa viagem, quando temos tempo e vontade de parar para reparar nas coisas, quando nos interessamos pelo novo. Vontade de ir além, de voar, de cruzar todos os limites.

Além do barulho, do tamanho da poltrona e da velocidade (muito baixa), fomos surpreendidos com várias tempestades de areia no decorrer da viagem. O vagão se enchia com uma nuvem de poeira horrível. Muito seco e péssimo para respirar, rolou um pouco de desespero, mas foram situações novas, diferentes, e que no final, valeram muito a pena. Agora, é historia para contar!

Enfim, chegamos a Uyuni às 2h da manhã. Fazia muito frio e a cidade estava completamente deserta. Tínhamos falado com a Colque Tours e eles tinham indicado um hotel. Fomos até o hotel, mas ninguém atendeu. Que raiva da Colque Tours! Não indico para ninguém! Então, sem aonde dormir, eu e o Jimmy começamos a percorrer as ruas vazias da cidade atrás de um quarto. Depois de umas sete tentativas, achamos um hotel. Detalhe: não tinha água! Só de manhã... Banho de lenços umedecidos e cama. Esse tipo de situação faz parte de um mochilão!


20/01 – Salar de Uyuni


Acordamos cedo e a água não tinha chegado ainda. Então fomos atrás de uma agência para fazermos o passeio de três dias pelo Salar de Uyuni. Fechamos o pacote com a Brisa Tours. Voltamos para o hotel e a água já tinha voltado! Graças a Deus! A natureza é realmente incrível e como podemos perceber que está mudando. Nesta época (janeiro) é a temporada de chuvas lá na Bolívia e o Uyuni está sofrendo com uma seca brutal. Imaginem na época de seca?!

Depois de um merecido banho, fomos tomar café da manhã recheado de pão torrado, suco de laranja, geléia, manteiga e omelete! Hummm...Muito bom! Limpos e alimentados, encontramos o nosso grupo na frente da agência. Antes, uma cerveja gelada local: Paceña! Muito boa, mas bem leve!

Embarcamos no land cruiser rojo (vermelho) do José (nosso motorista) e começamos o passeio. Nosso grupo era composto por eu, o Jimmy, um casal de argentinos, uma americana e uma alemã. Ainda estávamos todos meio tímidos nesse começo, mas no final de viagem já trocamos contatos e criamos uma simpatia muito grande por todos.

Nossa primeira parada foi o Cemitério de Trens. No meio do nada estão carcaças de trens e, o que foi um dia o primeiro complexo ferroviário boliviano de apoio a exportação de minérios do início do século passado, vira um cenário para fotos curiosas.

Seguimos para o Salar. E, a medida que íamos nos aproximando, sentíamos uma emoção incrível de estar neste lugar. É uma imagem surreal ver toda a terra seca ir se transformando apenas em sal. Uma imensidão branca foi aos poucos aparecendo e tomando conta de tudo a sua volta. Uma paisagem completamente diferente de tudo o que já vi na vida. Não parece o planeta Terra. É algo que faz a gente pensar como o mundo é gigante e como estamos acostumados só com aquilo que conhecemos. Conhecer o Salar é como conhecer outro planeta.

Paramos em Colchani, um pequeno vilarejo para comprar o artesanato local (feito de sal) e continuamos no Salar, onde visitamos uma área como pequenos morros de sal e os Ojos del Salar. Depois, seguimos para o Hotel de Sal e de lá para a Isla del Pescado, com mais de 70 espécies de cactos gigantes, onde o José preparou o nosso almoço.

A Isla del Pescado tem esse nome porque, vista de longe, tem o formato de um peixe. Conforme vamos nos aproximando da ilha, é nítida a sensação da falta de água do lugar, que um dia fez parte dessa paisagem. Dá para ver pelo formato da ilha. É uma coisa muito louca. Após o almoço, fizemos uma trilha por toda a ilha e me eternizei no Salar. Pedra sobre pedra. Você vê muito isso por lá. São pequenas pirâmides de pedras feitas pelo homem mesmo. Tipo passatempo do deserto! E eu montei a minha pequena pirâmide na Isla del Pescado. (Mas o mais engraçado foi ver uma turista brasileira questionando a amiga sobre essas pirâmides, falando que elas deveriam ter algum significado porque ela viu isso em todo o lugar. Por isso que eu falei que fiquei eternizada lá. Será que a minha pirâmide ainda está lá?! Rrs)

Saímos da Ilsa e já fomos direto para a nossa hospedaria. Surpresa: A casa era toda feita de sal! Paredes, cama, mesa, banquinhos, tudo! Um charme!! Tomamos café e depois banho! No final do dia eu e o Jimmy fomos ver as lhamas e fazer algumas fotos. A noite jantar com vinho e um pouco de céu estrelado e chocolate. Ficamos conversando com o casal de argentinos. Muito bom!

21/01 – Salar de Uyuni – Laguna Colorada

Acordamos as cinco da manhã para ver o nascer do sol no Salar. Entramos todos quietos no carro, meio sonados e fomos para o meio do sal. No horizonte, apenas algumas lanternas de outros carros buscando o melhor lugar para ver o sol nascer. Paramos nosso carro e esperamos os primeiros raios de sol. Eu e o Jimmy não aguentamos ficar no carro e saímos para o frio, para sentir aquele ar gelado, mas maravilhoso da manhã. De um lado a lua se pondo e de outro o sol aparecendo para iluminar mais um novo dia.

Sabe aquele lugar que é para chamar de seu?! Aonde você consegue parar um pouco, sentir como você é apenas um grão de areia nesse universo, aquele lugar que você consegue olhar pra dentro de você mesmo. Para mim, esse dia, esse momento, ficou guardado na memória para sempre de uma forma muito especial. Sempre será aquele lugar que me vou teletransportar quando precisar parar, respirar. Sair do agito maluco do dia a dia, do trabalho, da correria, e me conectar comigo mesma.

Quando o sol apareceu por completo, fizemos umas fotos de perspectiva e continuamos a nossa viagem. Adeus ao Salar. Nosso destino: o deserto e as lagoas. A nossa primeira parada foi próxima de um vulcão em erupção. De longe, víamos a fumaça do vulcão. Paramos para almoçar numa Laguna que estava repleta de flamingos. As cores da água e as montanhas no fundo formavam uma paisagem incrível. As cores, as texturas dos lugares são únicas. Algo que não estamos acostumados a ver no Brasil.

Depois do nosso almoço, partimos para o deserto. Terra e areia para todos os lados. As paisagens eram incríveis. Os tons de marrom contrastavam com o azul do céu de uma forma incrível. Visitamos a árvore de pedra no meio do deserto. Ventava muito. Muito mesmo e fazia frio (muito por causa do vento). Tiramos umas fotos e fomos para a Laguna Colorada, onde passaríamos a noite.

Ao chegar na Laguna, ficamos vislumbrados com a paisagem. O lugar é realmente incrível. Para termos uma visão completa da Laguna, tínhamos que subir até o topo de um morro, que estava distante do nosso alojamento. Muito casaco, gorro e óculos e subimos o morro. Foi muito difícil chegar e sair de lá. A trilha era extensa e ventava demais. Acho que cerca de 70 km, a velocidade do vento. A altitude também atrapalhou um pouco a caminhada. Mas todo o esforço valeu a pena a hora que chegamos no topo do morro. A vista, maravilhosa. Que paz, que mistura de cores incríveis, que lugar perfeito.

Me encostei atrás de uma pedra para me proteger do vento e fiquei contemplando os flamingos na lagoa. Ventava tanto, mas eles estavam imóveis. O barulho do vento nos ouvidos, a grandeza da natureza. Bateria recarregada. Para voltar foi muito difícil. Tivemos que fazer a trilha contra o vento e era como se uma barreira não deixasse a gente passar. Foi uma caminhada longa, mas na volta tínhamos café quentinho na mesa e bolachas. Nesses momentos é que valorizamos realmente as pequenas coisas na vida. É como uma cicloviagem. Você valoriza aquele pão roubado do café da manhã que está guardado na mala todo murcho, mas com um valor incalculável.

Ficamos todos juntos (nosso grupo) tomando café e conversando. Outros grupos que também estavam alojados estavam jogando cartas e nos empolgamos. Resolvermos fazer o mesmo. Imagina você ensinar as regras de um jogo em inglês, espanhol e português? Foi muito engraçado, mas conseguimos nos entender. Jantamos e depois fomos ver a lua cheia nascer na Laguna. A imagem foi incrível. A lua nascendo laranja, gorda atrás daquela laguna, naquele lugar maravilhoso.

Nessa noite, não tínhamos banho. Afinal, estávamos literalmente no meio do deserto. Lenços umedecidos resolveram (de certa forma) a situação. Apesar dessas pequenas dificuldades, falta de conforto material, porque espiritual você tem o tempo todo, a viagem vale muito a pena. Valorizamos ainda mais as nossas condições, nosso país, rico em água e vegetação. Valorizamos as pequenas coisas, o tempo, a natureza. Mas, acima de tudo, valorizamos viajar. Ter a oportunidade conhecer novos lugares que nunca imaginaríamos como era sem vivenciar todos esses momentos. Um lugar que ficará para sempre na minha mente, no meu coração.

22/01 – Laguna Colorada – Uyuni

Frio! Muito frio! Acordamos às 4h30 da madrugada para irmos aos Geisers. A viagem do nosso alojamento até lá demorou cerca de meia hora. Estávamos todos meio sonados, silenciosos. No horizonte um sol tímido ia nascendo contrastando com as montanhas. Lá no fundo, fumaça. Muita fumaça. Estávamos nos aproximando dos Geisers.

Os gêisers são nascentes termais que entram em erupção lançando um jato de água quente e vapor no ar. Eles aparecem geralmente próximos aos locais onde ocorrem atividades vulcânicas ou muito calor subterrâneo. Faz muito barulho e o cheiro de enxofre é muito forte. Mas, em uma temperatura beirando os 7º negativos, é muito bom ficar do lado de um gêiser.

Saímos de lá e fomos direto para as lagunas de água termais para tomar nosso café da manhã e o merecido banho. Corajosos despem-se e pulam na água quentinha. Vale a pena a sensação.

Depois, seguimos para fronteira aonde nos separamos. Duas integrantes do grupo seguiram para o Deserto do Atacama, no Chile e nós retornamos para o Uyuni. A viagem da volta foi mais silenciosa. Dormi praticamente o tempo todo. Nos intervalos, me perdia nas paisagens maravilhosas da Bolívia.

Chegamos no Uyuni no final do dia. Despedimos-nos dos amigos feitos na viagem e fomos tomar um banho nos Baños Públicos espalhados pela cidadezinha. Nossa, que delícia. Pegamos o ônibus direto para La Paz, terminando a nossa travessia do Salar de Uyuni.

23/01 – La Paz – Tiwanaku

Depois de chacoalhar por 12 horas, chegamos a La Paz. Apesar de a estrada ser de terra, é muito melhor do que o trem. Super recomendo. Nosso vôo partiria no dia 25 cedo, então tínhamos apenas mais dois dias na Bolívia. Deixamos as coisas no hotel, tomei um banho merecido de uma hora e fomos passear por La Paz.

No caminho, resolvemos ir para Tiwanaku, uma civilização pré-Inca, localizada próxima de La Paz, a 72 quilômetros. Lá, está o sítio arqueológico dessa civilização que reinou por quase mil anos. A visita é imperdível.

O trabalho que essa civilização desenvolvia nas pedras é algo inacreditável. Como, há 700 d.C., existiam ferramentas para cortar pedras da forma que era feito? A civilização desapareceu por motivos misteriosos por volta de 1000 d.C., deixando para trás ruínas cheias de enigmas e perfeição. Destaque para o monumento conhecido como La Puerta del Sol, que possui na imagem central um sol, a divindade reverenciada pelos incas.

Numa conversa com o Jimmy, sobre a beleza do local e a incrível capacidade de construir aquele local com tão poucos recursos, falei para ele: o homem sempre faz coisas incríveis, não importa a época.

24/01 – La Paz: Festa e Compras!

Reservamos o último dia da viagem para fazermos umas compras. A Bolívia é muito barata e vale a pena conferir alguns artigos eletrônicos por lá. Mas, para nossa sorte, no dia 24 de janeiro era comemorado o Festival Alasitas. O tema da festa é o pedido de fartura para o Deus Ekeko, nas ruas de La Paz.

No hotel, o mensageiro nos explicou como funcionava: tínhamos que comprar alguma miniatura nas barraquinhas de rua e benzê-las ao meio dia na praça. É claro que não deixamos de participar. Eu e o Jimmy fomos para a Praça de San Pedro, perto do nosso hotel e compramos as miniaturas. Para mim, uma mala de viagem. É isso que eu mais quero em 2011, 2012, 2013... na vida. Dólares para minha mãe e certificado de saúde para todos.

Com as miniaturas compradas, visitamos a igreja da praça, que estava completamente lotada. Todos os moradores de La Paz participam dessa Festa. Existiam miniaturas de tudo. Certificado de divórcio, de casamento, carros, casas, carrinhos de supermercado...você escolhe a sua miniatura e a benze, para que ela traga o que deseja e muita prosperidade.

Às 12h dois “padrecitos” apareceram na praça e fizeram uma benção coletiva. Muita gente participando. Foi interessante estar presente neste momento tão especial para os moradores de La Paz.

Depois, fomos as compras. Lembranças, prata, gorros e luvas. Aproveitando os preços baixos, comprei um som para o meu carro (quem diria!). Enfim, conhecemos um bom pedaço de La Paz. Valeu muito a pena.

Porque viajar é preciso

Na noite de 24 de janeiro arrumamos as nossas coisas, lembramos de alguns momentos, ficamos mais introspectivos. Afinal, estava chegando ao fim uma semana fora de casa, em um lugar completamente novo, com outra cultura e costume.

Dessa viagem, ficou a vontade de quero mais. De conhecer mais lugares, novas pessoas, culturas e costumes. É o meu pedido para esse ano. É a minha malinha benzida em La Paz que irá me levar para onde eu quiser.

Para viajar basta ter vontade, basta querer. Se soltar das rédeas do comum, da zona de conforto e permitir-se ir além. Além até de você mesmo.

Contatos:

Brisa Tours:
Endereço: Ferroviária Avenue
Cell phone: 724 18875 – 724 17363
brisatours@gmail.com
Facebook: Uyuni Brisa Tours

Hotel Panamericano – La Paz
Calle Mexico, n. 1555
Tels: (591-2) 2317829 / 2317830
E-mail: info@hotel-panamerican.com
www.hotel-panamerican.com

Panasur (ônibus de Uyuni para La Paz)
La Paz: Terminal de buses Of. N. 16. Tel: (591-2) 2281708
Uyuni: Calle Cabrera n. 278 esq. Com a Av. Arce. Tel: / (02) 6932200
E-mail: panasur@latinmail.com

Aqui vão umas dicas:


*Para ir até o Salar de Uyuni tem um ônibus que parte direto de La Paz. Fizemos isso na volta e foi muito melhor. Recomendo a todos que optem pelo ônibus direto e não o trem, que parte somente de Oruro.

* Lenços umedecidos, papel higiênico, protetor solar, álcool em gel e muito hidratante são essenciais.

* Pratique o desapego, em todos os sentidos. Não se preocupe com supérfluos, sinta o lugar em sua totalidade. Converse com as pessoas, interaja. Com tudo e todos.

* Carregue com você sempre uma boa quantidade de bolivianos (a moeda local), pois poucos lugares aceitam dólares e cartões de crédito, principalmente em La Paz, na hora de comprar pratas e roupas.

Todas as fotos em:https://picasaweb.google.com/barbaracheffer

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Cartas



Hoje a tarde me peguei reparando na letra da minha avó. Ela fez a lista do supermercado e deixou em cima da minha mesa. Li o que precisava comprar, mas o que me chamou a atenção foi a sua caligrafia. Antiga, bonita, trabalhada. Não sei se existe ainda aqueles cadernos de caligrafia que éramos obrigados a escrever umas cem vezes a letra a (sempre cursiva, é claro), B, C, etc....

Várias vezes, em conversas corriqueiras, as pessoas comentam que não escrevem mais. Quando eu falo isso, me refiro a pegar uma caneta e escrever no papel mesmo. Um texto, um pensamento, uma vontade. Ou até mesmo uma carta. Cartas... como era bom o tempo em que trocávamos cartas. Cartas com os amigos que estão longe, parentes, amores.., Cartinhas de segredo entregues durante o intervalo da aula chata de matemática.

Hoje em dia é Ipad, IPhone, agenda no Outlook, celular...ninguém mais escreve. Um costume tão bom e tão importante para o desenvolvimento do ser humano. Escrever sem se preocupar, sem voltar e apertar a tecla de apagar o tempo todo. Sem mudar parágrafos de lugar, editar o texto o tempo todo (confesso que faço isso também). Mas é muito bom parar um pouco e colocar no papel os seus pensamentos e ver a forma que eles têm.

Eu tenho um amigo com quem sempre troquei cartas. Infelizmente a frequencia diminuiu, mas ano passado consegui escrever duas cartas para ele. Esse ano quero escrever mais.

Sugestão: deixe um pouco de lado o facebook, twitter, MSN e vá escrever uma carta! Mande apenas um oi ou porque não, um texto bem grandão?!

Com certeza a carta será muito bem recebida!